A perícia realizada no Núcleo de Medicina e Odontologia Legal (Numol) da cidade de Cajazeiras, cujo laudo foi assinado pelo perito Juarez Soares Dorneles Neto e revisado pelo chefe do Numol, Luiz Rustenes Fernandes de Lima, concluiu que Eliana morreu por “sufocação indireta do tipo asfixia posicional”. Ou seja, devido à posição em que ela ficou pendurada no leito ao tentar se desprender das contenções mecânicas (semelhante à posição de crucificação), a vítima foi perdendo gradativamente a respiração pela impossibilidade da entrada de oxigênio na caixa torácica.
O laudo aponta que havia lesões externas na face; manchas roxas e escoriações no pescoço; manchas roxas também nos punhos e braços; e lesões puntiformes (semelhantes a marcas de agulhas) no quadril posterior. Na parte interna do crânio também havia hematomas. Na região interna da caixa torácica foram constatadas manchas hemorrágicas, típicas de asfixia mecânica.
No exame toxicológico, foram encontrados seis antipsicóticos e/ou sedativos no sangue, na urina e no estômago: clorpromazina, clozapina, quetiapina, prometazina, levomepromazina e diazepam. A soma dessas medicações podem aumentar o potencial de uma depressão respiratória – tórax deprimido a ponto de o paciente não conseguir respirar. Elas também restringem a capacidade motora do paciente. No entanto, o exame é limitado com relação a determinar a quantidade das substâncias encontradas no organismo.
A vítima tentou sair do leito
Segundo a perícia realizada pela Polícia Civil no local e no dia da morte, Eliana estava sob contenção mecânica, ou seja, imobilizada pelos braços, pernas e tórax no leito do CAPS, teoricamente porque os sedativos não estavam surtindo efeito. Ela teria, então, conseguido desprender parcialmente as pernas, tentou sair da cama, ficou parcialmente suspensa e não conseguiu retornar à posição inicial, onde acabou falecendo por asfixia.
“A análise do mobiliário hospitalar revelou que o leito, de altura elevada em relação ao solo, impossibilitou a pericianda de retomar a posição de decúbito dorsal ou alcançar apoio adequado para reerguimento”, diz um trecho do laudo.
“Nessa posição de suspensão parcial, a permanência prolongada comprometeu a mecânica ventilatória, restringindo os movimentos respiratórios eficazes. A força gravitacional, associada à fixação torácica e à impossibilidade de apoio dos membros inferiores, resultou em hipoventilação progressiva, culminando em insuficiência respiratória fatal”, acrescenta o laudo.
A família suspeita de negligência
Eliana Pereira de Melo ficou internada por uma semana no CAPS III Tozinho Gadelha. Após sua morte, a família denunciou possível negligência, maus-tratos e abusos no atendimento, levantando questionamentos sobre as condições em que ela foi encontrada.
Em nota oficial, a Prefeitura de Sousa informou que também iniciou um procedimento disciplinar interno para apurar os fatos relacionados à morte da paciente. Enquanto isso, cinco servidores públicos municipais que trabalham no CAPS Tozinho Gadelha foram afastados. A gestão municipal se colocou à disposição para prestar esclarecimentos e oferecer apoio à família durante o processo investigativo.
Fonte: Diário do Sertão Luis Fernando Mifô
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